quarta-feira, 10 de março de 2010

VOCÊ SABE O QUE LÊ?

Recebi este texto do Rev. Marcos Paixão.
Achei interessante e resolvi compartilhá-lo com voces.

Boa leitura e reflexão.




Jr 29.11

A Cabana - A Perda da Arte de Discernimento Evangélico

Albert Mohler Jr.
Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary,
pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor,
professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela
revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico
norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher.

O mundo editorial vê poucos livros atingirem o status de "sucesso". No
entanto, o livro A Cabana, escrito por William Paul Yong, superou esse
status. O livro, publicado originalmente pelo próprio autor e dois amigos,
já vendeu mais de dez milhões de cópias e já foi traduzido para mais de
trinta idiomas. É, agora, um dos livros mais vendidos de todos os tempos,
e seus leitores estão entusiasmados.

De acordo com Young, o livro foi escrito originalmente para seus próprios
filhos. Em essência, ele pode ser descrito como uma teodicéia em forma de
narrativa – uma tentativa de responder à questão do mal e do caráter de
Deus por meio de uma história. Nessa história, o personagem principal está
entristecido por causa do rapto e do assassinato brutal de sua filha de
sete anos, quando recebe aquilo que se torna uma intimação de Deus para
encontrá-lo na mesma cabana em que a menina foi morta.

Na cabana, "Mack" se encontra com a Trindade divina, onde Deus, o Pai, é
representado como "Papai", uma mulher afro-americana, e Jesus, por um
carpinteiro judeu, e "Sarayu", uma mulher asiática, é identificada como o
Espírito Santo. O livro é, principalmente, uma série de diálogos entre
Mack, Papai, Jesus e Sarayu. As conversas revelam que Deus é bem diferente
do Deus da Bíblia. "Papai" é absolutamente alguém que não faz julgamentos
e parece determinado a afirmar que toda a humanidade já está redimida.

A teologia de A Cabana não é incidental à história. De fato, em muitos
pontos a narrativa serve, principalmente, como uma estrutura para os
diálogos. E estes revelam uma teologia que, no melhor, é não-convencional
e, sem dúvida, herética em certos aspectos.

Embora o artifício literário de uma "trindade" não-convencional de pessoas
divinas seja, em si mesmo, antibíblico e perigoso, as explicações
teológicas são piores. "Papai" conta a Mack sobre o tempo em que as três
pessoas da Trindade manifestaram-se da seguinte forma: "nós falamos com a
humanidade através da existência humana como Filho de Deus". Em nenhuma
passagem da Bíblia, o Pai ou o Espírito Santos é descrito como assumindo a
forma humana. A cristologia do livro é confusa. "Papai" diz a Mack que,
embora Jesus seja plenamente Deus, "ele nunca usou a sua natureza como
Deus para fazer qualquer coisa". Eles apenas viveu do seu relacionamento
comigo, da mesma maneira como eu desejo me relacionar com qualquer ser
humano". Quando Jesus curou o cego, "Ele fez isso como um ser humano
dependente que confiava em minha vida e poder para agir nele e por meio
dele. Jesus, como ser humano, não tinha qualquer poder em si mesmo para
curar alguém".

Embora haja muita confusão teológica a ser esclarecida no livro, basta
dizer que a igreja cristã tem lutado por séculos para chegar a um
entendimento fiel da Trindade, a fim de evitar esse tipo de confusão –
reconhecendo que a fé cristã está, ela mesma, em perigo.

Jesus diz a Mack que ele é "o melhor caminho para qualquer ser humano se
relacionar com Papai ou com Sarayu". Não é o único caminho, mas o melhor
caminho.

Em outro capítulo, "Papai" corrige a teologia de Mack afirmando: "Eu não
preciso punir as pessoas pelos seus pecados. O pecado é a sua própria
punição, que devora você a partir do interior. Não tenho o propósito de
punir o pecado; tenho alegria em curá-lo". Sem dúvida, a alegria de Deus
está na expiação realizada pelo Filho. No entanto, a Bíblia revela
consistentemente que Deus é o Juiz santo e reto, que punirá pecadores. A
idéia de que o pecado é a "sua própria punição" se encaixa no conceito do
karma, e não no evangelho cristão.

O relacionamento do Pai com o Filho, revelado em textos como João 17, é
rejeitado em favor de uma absoluta igualdade de autoridade entre as
pessoas da Trindade. "Papai" explica que "não temos qualquer conceito de
autoridade final entre nós, somente unidade". Em um dos mais bizarros
parágrafos do livro, Jesus diz a Mack: "Papai é tão submisso a mim como o
sou a ele, ou Sarayu a mim, ou Papai a ela. Submissão não diz respeito à
autoridade e à obediência; é um relacionamento de amor e respeito. De
fato, somos submissos a você da mesma maneira".

Essa hipotética submissão da Trindade a um ser humano – ou a todos os
seres humanos – é uma inovação teológica do tipo mais extremo e perigoso.
A essência da idolatria é a auto-adoração, e essa noção da Trindade
submissa (em algum sentido) à humanidade é indiscutivelmente idólatra.

O aspecto mais controverso da mensagem de A Cabana gira em torno das
questões do universalismo, da redenção universal e da reconciliação final.
Jesus diz a Mack: "Aqueles que me amam procedem de todo sistema que
existe. São budistas, mórmons, batistas, islamitas, democratas,
republicanos e muitos que não votam ou não fazem parte de qualquer igreja
ou de instituições religiosas". Jesus acrescenta: "Não tenho desejo de
torná-los cristãos, mas quero unir-me a eles em sua transformação em
filhos e filhas de meu Papai, em meus irmãos e irmãs, meus amados".

Em seguida, Mack faz a pergunta óbvia: Todos os caminhos levam a Cristo?
Jesus responde: "Muitos dos caminhos não levam a lugar algum. O que isso
significa é que eu irei a qualquer caminho para encontrar vocês".

Devido ao contexto, é impossível extrair conclusões essencialmente
universalistas ou inclusivistas quanto ao significado de Yong. "Papai"
repreende Mack dizendo que está agora reconciliado com todo o mundo. Mack
replica: "Todo o mundo? Você quer dizer aqueles que crêem em você, não é?"
"Papai responde: "Todo o mundo, Mack".


No todo, isso significa algo bem próximo da doutrina da reconciliação
proposta por Karl Barth. E, embora Wayne Jacobson, o colaborador de Young,
tenha lamentado haver pessoas que acusam o livro de ensinar a
reconciliação final, ele reconhece que as primeiras edições do manuscrito
foram influenciadas indevidamente pela "parcialidade, na época," de Young
para com a reconciliação final – a crença de que a cruz e a ressurreição
de Cristo realizaram a reconciliação unilateral de todos os pecadores (e
de toda a criação) com Deus.

James B. DeYoung, do Western Theological Seminary, um erudito em Novo
Testamento que conheceu Young por vários anos, documenta a aceitação de
Young quanto a uma forma de "universalismo cristão". A Cabana, ele
conclui, "descansa sobre o fundamento da reconciliação universal".

Apesar de que Wayne Jacobson e outros se queixam daqueles que identificam
heresia em A Cabana, o fato é que a igreja cristã tem identificado,
explicitamente, esses ensinos como heresia. A pergunta óbvia é esta: por
que tantos cristãos evangélicos parecem ser atraídos não somente à
história, mas também à teologia apresentada na narrativa – uma teologia
que, em vários pontos, está em conflito com as convicções evangélicas?

Os observadores evangélicos não estão sozinhos em fazer essa pergunta.
Escrevendo em The Chronicle of High Education (A Crônica da Educação
Superior), o professor Timothy Beal, da Case Western University,
argumentou que a popularidade de A Cabana sugere que os evangélicos devem
estar mudando a sua teologia. Ele cita os "modelos metafóricos
não-bíblicos de Deus" no livro, bem como seu modelo "não-hierárquico" da
Tridade e, mais notavelmente, "sua teologia de salvação universal".

Beal afirma que nada dessa teologia faz parte das "principais correntes
teológicas evangélicas" e explica: "De fato, essas três coisas estão
arraigadas no discurso teológico acadêmico radical e liberal dos anos 1970
e 1980 – que influenciou profundamente os feministas contemporâneos e a
teologia da libertação, mas que, até agora, teve muito pouco impacto nas
imaginações teológicas de não-acadêmicos, especialmente dentro das
principais correntes religiosas".

Em seguida, ele pergunta: "O que essas idéias teológicas progressistas
estão fazendo no fenômeno da ficção evangélica?" Ele responde:
"Desconhecidas para muitos de nós, elas têm estado presente em muitos
segmentos liberais do pensamento evangélico durante décadas". Agora, ele
diz, A Cabana introduziu e popularizou esses conceitos liberais até entre
as principais denominações evangélicas.

Timothy Beal não pode ser rejeitado como um conservador e "caçador de
heresias". Ele está admirado com o fato de que essas "idéias teológicas
progressistas" estão "se introduzindo aos poucos na cultura popular por
meio de A Cabana".

De modo semelhante, escrevendo em Books & Culture (Livros e Cultura),
Katharine Jeffrey conclui que A Cabana "oferece uma teodicéia pós-moderna
e pós-bíblica". Embora sua principal preocupação seja o lugar do livro
"num panorama literário cristão", ela não pôde evitar o lidar com a sua
mensagem teológica.

Ao avaliar o livro, deve-se ter em mente que A Cabana é uma obra de
ficção. Contudo, é também um argumento teológico, e isso não pode ser
negado. Diversos romances notáveis e obras de literatura contêm teologia
aberrante e heresia. A pergunta crucial é se as doutrinas aberrantes são
características da história ou são a mensagem da obra. Em A Cabana, o fato
inquietante é que muitos leitores são atraídos à mensagem teológica do
livro e não percebem como ela conflita com a Bíblia em muitos assuntos
cruciais.

Tudo isso revela um fracasso desastroso do discernimento evangélico.
Dificilmente não concluímos que o discernimento teológico é agora uma arte
perdida entre os evangélicos – e esse erro pode levar tão-somente à
catástrofe teológica.


A resposta não é banir A Cabana ou arrancá-lo das mãos dos leitores. Não
precisamos temer livros – temos de estar prontos para responder-lhes.
Necessitamos desesperadamente de uma redescoberta teológica que só pode
vir de praticarmos o discernimento bíblico. Isso exigirá que
identifiquemos os perigos doutrinários de A Cabana. Mas a nossa principal
tarefa consiste em familiarizar novamente os evangélicos com os ensinos da
Bíblia sobre esses assuntos e fomentar um rearmamento doutrinário de
cristãos evangélicos.

A Cabana é um alerta para o cristianismo evangélico. Uma avaliação como a
que Timothy Beal ofereceu é reveladora. A popularidade desse livro entre
os evangélicos só pode ser explicada pela falta de conhecimento teológico
básico entre nós – um fracasso em entender o evangelho de Cristo. A
tragédia de que os evangélicos perderam a arte de discernimento bíblico se
origina na desastrosa perda do conhecimento da Bíblia. O discernimento não
pode sobreviver sem doutrina.

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