sexta-feira, 12 de março de 2010

Os Pais Chuparam Uvas Verdes e os Filhos Embotaram os Dentes

por
Alan Rennê Alexandrino Lima

INTRODUÇÃO
Vivemos num período caracterizado por uma tremenda confusão doutrinária. Na verdade, de um lado existem aqueles que desprezam os estudos teológicos por acharem que teologia “esfria” a Igreja. Por outro lado existem aqueles que são herdeiros de uma tradição rica em conceitos sadios e que concordam com a sã doutrina da Palavra de Deus, mas que mesmo assim, se apóiam em doutrinas completamente contrárias aos ensinamentos da Palavra de Deus.
Isso acontece porque tais pessoas desconhecem um princípio hermenêutico (princípio de interpretação) bíblico sadio e correto. A maior verdade de interpretação existente é de que A BÍBLIA INTERPRETA A PRÓPRIA BÍBLIA. Em outras palavras, isso quer dizer que as passagens que são complicadas devem ser interpretadas por outras passagens mais claras. Outro princípio diz que as passagens bíblicas devem ser interpretadas dentro do seu contexto. É bem conhecido aquele ditado que diz que “texto sem contexto é pretexto pra heresia”. Um exemplo de pessoas que viviam dessa forma eram os cristãos da cidade de Beréia que conferiam nas Escrituras se Paulo estava pregando corretamente.
Tais noções nos ajudam contra doutrinas erradas que muitas vezes são passadas dos púlpitos das nossas igrejas. Uma destas doutrinas é a conhecida doutrina das maldições hereditárias. Esta doutrina tão perniciosa é definida por um de seus principais defensores no Brasil da seguinte forma:
A maldição é a autorização dada ao diabo por alguém que exerce autoridade sobre outrem, para causar dano à vida do amaldiçoado... A maldição é a prova mais contundente do poder que têm as palavras. Prognósticos negativos são responsáveis por desvios sensíveis no curso da vida de muitas pessoas, levando-as a viver completamente fora dos propósitos de Deus... As pragas se cumprem. [1]
Algumas perguntas surgem nas nossas mentes: será que Deus castiga os filhos por causa dos pecados dos pais? Será Deus um agente arbitrário que castiga os filhos que não cometeram pecado no lugar dos pais, que são os verdadeiros culpados? Ou há algo que deve ser entendido devidamente nas passagens onde Deus fala sobre maldição hereditária? São exatamente estas perguntas que nos propomos a responder dentro da única regra de fé e prática da Igreja: A BÍBLIA SAGRADA.

EXAME DAS PASSAGENS QUE FALAM SOBRE MALDIÇÃO HEREDITÁRIA
Dentro da revelação bíblica, a primeira passagem onde ocorre um pronunciamento divino a respeito de castigar nos filhos os pecados dos pais é em Êxodo 20: 4-6, que diz exatamente assim: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”. Há algumas coisas que devem ser percebidas na passagem acima, as quais são muito elucidativas para o problema em questão.
Primeiramente, devemos notar que essa ameaça divina está dentro do contexto da entrega dos Dez Mandamentos. Deus estava entregando ao seu servo Moisés uma regra de vida para o seu povo escolhido. Percebamos que a advertência divina está logo após a declaração do segundo mandamento “não farás para ti imagem de escultura...”. logo em seguida o Senhor Deus Todo-poderoso dá a razão porque o povo de Israel não poderia fazer imagens: “porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”. Deve ser notado o uso da palavra “porque”, que indica a razão do segundo mandamento. De forma simples, a advertência divina de castigar nos filhos os pecados dos pais sempre está conectada com a possibilidade do pecado de idolatria.
Em segundo lugar, Deus diz que é Deus zeloso. A palavra “zeloso” quando usada a respeito de Deus descreve o amor que Deus tem pelo seu nome santo, um zelo que exige a devoção exclusiva de seu povo. Ela é usada quando essa reivindicação é ameaçada por falsos deuses (conferir Dt 6.15; Js 24.19). É por causa do zelo que tem pelo próprio nome que Deus adverte o povo de Israel contra o pecado da idolatria e faz a ameaça de castigar as gerações subseqüentes. João Calvino comenta essa passagem de forma interessante. Ele diz o seguinte: “Ora é completamente estranho à equidade da justiça divina o castigar no inculpado o castigo do pecado alheio”. [2] Ele continua dando a razão pela qual essa advertência seria efetivada: “onde esta maldição pesou, que se pode esperar, senão que o pai de família, destituído do Espírito Santo de Deus, viva de forma abominável e o filho, de forma semelhante, abandonado pelo Senhor por causa da iniqüidade do pai, siga o mesmo caminho de perdição? Finalmente, o neto e o bisneto, a mesma semente de homens idólatras também se precipitem nos mesmos pecados”. [3] No catecismo que escreveu para a Igreja de Genebra, Calvino afirma que essa imprecação se concretizaria em todos os descendentes que perpetuassem a iniqüidade de seus antepassados. Ele diz o seguinte:
É como se Deus dissesse que ele é o único a quem devemos nos apegar. Ele não pode tolerar a companhia de outro deus e irá demonstrar sua majestade e glória se alguém transferi-las a imagens ou qualquer outra coisa; e não somente uma única vez, mas nos pais, nos filhos e descendentes, ou seja, em todos enquanto sigam a iniqüidade de seus pais; assim também ele manifestará perpetuamente a sua misericórdia e bondade para com aqueles que o ama e guardam a sua lei. Ele declara a grandiosidade de sua misericórdia nisto, em que ele a estende até mil gerações enquanto designa apenas quatro gerações para sua vingança. [4]
Também é interessante a síntese do pensamento calviniano na obra de J. P. Willes:
Acrescenta-se que o Senhor é um Deus zeloso, para demonstrar que ele não tolerará rival algum, e sim vingará o insulto cometido contra a sua glória, se esta for transferida a criaturas ou imagens de escultura; e que essa vingança será visitada nos netos e bisnetos, visto que estes seguirão nos maus passos dos seus pais. [5]
De forma prática, a fim de que entendamos esta passagem de Êxodo, lembremos que desde os tempos mais antigos, os pais de família são os sacerdotes dos seus lares. Lembremos do caso de Jó, que oferecia sacrifícios continuamente pelos possíveis pecados de seus filhos (Jó 1. 5). Os pais sempre foram os responsáveis primários pela educação religiosa de seus filhos. No livro de Deuteronômio 6. 6, 7 encontramos esta verdade: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te”. A família deve ser uma comunidade de ensino e aprendizado a respeito de Deus e da piedade cristã. As crianças devem ser ensinadas pelos seus pais a amarem ao Senhor de todo coração (Gn 18.18, 19; Dt 4.9; 11.18-21; Pv 22.6; Ef 6.4). Logicamente, os pais que falhassem nessa tarefa estariam contribuindo para que seus filhos permanecessem ignorantes a respeito da lei de Deus e, conseqüentemente, dariam abertura para que seus filhos se tornassem idólatras, pecassem contra o Senhor e fossem assim, severamente castigados pelo Deus santo e justo. Somente nesse sentido é que Deus castigaria nos filhos os pecados de seus pais. Reflitamos: nesse caso, qual o pecado dos pais? A resposta é a idolatria e o falso ensinamento para seus filhos. Qual o pecado dos filhos? A resposta é a idolatria aprendida dos pais e a passagem dos maus costumes para os netos de seus pais. Essa é a interpretação correta. Todas as outras passagens onde esta ameaça ocorre, ela está vinculada à possibilidade de pecado e rebeldia contra o Senhor Deus (conferir Isaías 44.15; Deuteronômio 4.24; Números 14.18, 33).
Mais especificamente, há uma outra passagem no Antigo Testamento que mostra que a responsabilidade pelo pecado é pessoal e individual. A passagem é Ezequiel 18.20: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este”. Esta passagem é muito esclarecedora, onde o próprio Deus afirma que cada um dará contas dos seus próprios pecados. Os filhos não têm culpa dos pecados de seus pais, nem os pais têm culpa dos pecados dos filhos. Mas isso desde que um deles tenha vivido de acordo com a vontade de Deus revelada na sua Palavra. No início do capítulo está escrito: “Que tendes vós, vós que acerca da erra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá ” (Ez 18.2-4). Ezequiel está explicando que Deus responde de acordo com os atos de cada indivíduo e geração. Cada um é punido por seus próprios pecados. Recomendo que a Igreja leia para um melhor entendimento todo o capítulo 18 de Ezequiel, de forma mais específica, os versículos que se estendem de 10 a 18. Em suma, o pai não leva a culpa pelo pecado do filho, nem o filho leva a culpa pelo pecado de seu pai, desde que um deles tenha vivido uma vida santa, reta, dedicada ao serviço e adoração ao Deus verdadeiro.

RESPOSTA À UMA MÁ UTILIZAÇÃO DE UMA PASSAGEM DO NOVO TESTAMENTO PARA DAR SUPORTE AO ERRO AQUI COMBATIDO
Muitas pessoas enfatuadas, arrogantes e na verdade ignorantes a respeito da Palavra de Deus utilizam, de forma indevida uma passagem neotestamentária para apoiar sua falsa doutrina de maldição hereditária. A passagem é João 9.1, 2, que diz o seguinte: “Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” A resposta de Jesus foi extraordinária: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestassem nele as obras de Deus” (v. 3). Agora eu pergunto aos que afirmam que aqui há uma base para a maldição hereditária: onde esse texto dá apoio à essa doutrina satânica e perniciosa? A resposta é óbvia: EM NENHUM LUGAR! Quereis vós, que distorcem o cristalino ensino da Palavra inerrante de Deus basear os seus falsos ensinamentos apenas na pergunta dos discípulos? Pois bem, não percebem que esta pergunta foi taxada como errada pelo próprio Jesus? A resposta de Jesus Cristo mostra quão errada é esta noção, quão deturpada é a doutrina que ensina que os filhos são castigados pelos pecados dos seus pais. Na verdade, o propósito pelo qual aquele homem havia nascido cego era para que na vida dele as obras poderosas de Deus fossem manifestadas. Ele havia nascido cego para que a glória de Deus fosse manifestada através da cura realizada por Jesus Cristo, a fim de que a sua pregação a respeito do Reino de Deus fosse credenciada diante das pessoas que o ouviam. Esta passagem não ensina nada sobre maldição hereditária a não ser uma única coisa: que esta doutrina é errada!

CONCLUSÃO
Alguns de nossos sofrimentos, como os de Jó, são para a glória de Deus, pois ou resultam em nosso próprio aperfeiçoamento ou em cura espetacular, como no caso do cego de nascença. O propósito de Deus nem sempre é conhecido por nós, mas devemos como cristãos ter a firme convicção de que o seu propósito é bom (Romanos 8.28).
Diante da reflexão aqui empreendida, deve restar a certeza de que Deus trata cada um segundo as suas próprias obras. Digo isso não com relação à salvação, pois se assim fosse, ninguém seria beneficiário da salvação, em virtude da mesma ser única e exclusivamente pela graça soberana do Deus do Pacto; mas esta afirmação tem a ver com a imposição de castigos temporais. Deus disciplinas aos filhos que tanto ama.
Devemos rejeitar toa e qualquer doutrina que vá contra a Palavra de Deus. No caso, uma doutrina que afirme que Deus visita a iniqüidade dos pais nos filhos é uma falsa doutrina e deve ser rejeitada e condenada como herética. Sempre existiram pessoas dispostas a afirmar isso, mas ultimamente tal afirmação ganhou força com a Igreja Universal do Reino de Deus, a qual, nós bem sabemos que é uma instituição que ensina outro evangelho, não o de Cristo. A orientação bíblica é para que rejeitemos também os falsos mestres, que na linguagem do apóstolo João são nada mais nada menos do que “enganadores” (2 João 7).
Em suma, a autoridade para resolver qualquer dúvida a respeito de crença e prática da Igreja é a Escritura Sagrada. Ela é a Palavra inerrante do Deus Todo-poderoso. Ouçamo-la.

SOLI DEO GLORIA!

NOTAS:
[1] - Jorge Linhares, Bênção e Maldição , 16.
[2] - João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã , Livro I, cap. VIII, 19. p. 146.
[3] - Ibid. p. 147.
[4] - João Calvino, Instrução na Fé: Princípios Para A Vida Cristã , (Goiânia: Logos, 2003), 23.
[5] - J. P. Willes, Ensino Sobre O Cristianismo , (São Paulo: PES, 2002), 177.


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quarta-feira, 10 de março de 2010

VOCÊ SABE O QUE LÊ?

Recebi este texto do Rev. Marcos Paixão.
Achei interessante e resolvi compartilhá-lo com voces.

Boa leitura e reflexão.




Jr 29.11

A Cabana - A Perda da Arte de Discernimento Evangélico

Albert Mohler Jr.
Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary,
pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor,
professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela
revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico
norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher.

O mundo editorial vê poucos livros atingirem o status de "sucesso". No
entanto, o livro A Cabana, escrito por William Paul Yong, superou esse
status. O livro, publicado originalmente pelo próprio autor e dois amigos,
já vendeu mais de dez milhões de cópias e já foi traduzido para mais de
trinta idiomas. É, agora, um dos livros mais vendidos de todos os tempos,
e seus leitores estão entusiasmados.

De acordo com Young, o livro foi escrito originalmente para seus próprios
filhos. Em essência, ele pode ser descrito como uma teodicéia em forma de
narrativa – uma tentativa de responder à questão do mal e do caráter de
Deus por meio de uma história. Nessa história, o personagem principal está
entristecido por causa do rapto e do assassinato brutal de sua filha de
sete anos, quando recebe aquilo que se torna uma intimação de Deus para
encontrá-lo na mesma cabana em que a menina foi morta.

Na cabana, "Mack" se encontra com a Trindade divina, onde Deus, o Pai, é
representado como "Papai", uma mulher afro-americana, e Jesus, por um
carpinteiro judeu, e "Sarayu", uma mulher asiática, é identificada como o
Espírito Santo. O livro é, principalmente, uma série de diálogos entre
Mack, Papai, Jesus e Sarayu. As conversas revelam que Deus é bem diferente
do Deus da Bíblia. "Papai" é absolutamente alguém que não faz julgamentos
e parece determinado a afirmar que toda a humanidade já está redimida.

A teologia de A Cabana não é incidental à história. De fato, em muitos
pontos a narrativa serve, principalmente, como uma estrutura para os
diálogos. E estes revelam uma teologia que, no melhor, é não-convencional
e, sem dúvida, herética em certos aspectos.

Embora o artifício literário de uma "trindade" não-convencional de pessoas
divinas seja, em si mesmo, antibíblico e perigoso, as explicações
teológicas são piores. "Papai" conta a Mack sobre o tempo em que as três
pessoas da Trindade manifestaram-se da seguinte forma: "nós falamos com a
humanidade através da existência humana como Filho de Deus". Em nenhuma
passagem da Bíblia, o Pai ou o Espírito Santos é descrito como assumindo a
forma humana. A cristologia do livro é confusa. "Papai" diz a Mack que,
embora Jesus seja plenamente Deus, "ele nunca usou a sua natureza como
Deus para fazer qualquer coisa". Eles apenas viveu do seu relacionamento
comigo, da mesma maneira como eu desejo me relacionar com qualquer ser
humano". Quando Jesus curou o cego, "Ele fez isso como um ser humano
dependente que confiava em minha vida e poder para agir nele e por meio
dele. Jesus, como ser humano, não tinha qualquer poder em si mesmo para
curar alguém".

Embora haja muita confusão teológica a ser esclarecida no livro, basta
dizer que a igreja cristã tem lutado por séculos para chegar a um
entendimento fiel da Trindade, a fim de evitar esse tipo de confusão –
reconhecendo que a fé cristã está, ela mesma, em perigo.

Jesus diz a Mack que ele é "o melhor caminho para qualquer ser humano se
relacionar com Papai ou com Sarayu". Não é o único caminho, mas o melhor
caminho.

Em outro capítulo, "Papai" corrige a teologia de Mack afirmando: "Eu não
preciso punir as pessoas pelos seus pecados. O pecado é a sua própria
punição, que devora você a partir do interior. Não tenho o propósito de
punir o pecado; tenho alegria em curá-lo". Sem dúvida, a alegria de Deus
está na expiação realizada pelo Filho. No entanto, a Bíblia revela
consistentemente que Deus é o Juiz santo e reto, que punirá pecadores. A
idéia de que o pecado é a "sua própria punição" se encaixa no conceito do
karma, e não no evangelho cristão.

O relacionamento do Pai com o Filho, revelado em textos como João 17, é
rejeitado em favor de uma absoluta igualdade de autoridade entre as
pessoas da Trindade. "Papai" explica que "não temos qualquer conceito de
autoridade final entre nós, somente unidade". Em um dos mais bizarros
parágrafos do livro, Jesus diz a Mack: "Papai é tão submisso a mim como o
sou a ele, ou Sarayu a mim, ou Papai a ela. Submissão não diz respeito à
autoridade e à obediência; é um relacionamento de amor e respeito. De
fato, somos submissos a você da mesma maneira".

Essa hipotética submissão da Trindade a um ser humano – ou a todos os
seres humanos – é uma inovação teológica do tipo mais extremo e perigoso.
A essência da idolatria é a auto-adoração, e essa noção da Trindade
submissa (em algum sentido) à humanidade é indiscutivelmente idólatra.

O aspecto mais controverso da mensagem de A Cabana gira em torno das
questões do universalismo, da redenção universal e da reconciliação final.
Jesus diz a Mack: "Aqueles que me amam procedem de todo sistema que
existe. São budistas, mórmons, batistas, islamitas, democratas,
republicanos e muitos que não votam ou não fazem parte de qualquer igreja
ou de instituições religiosas". Jesus acrescenta: "Não tenho desejo de
torná-los cristãos, mas quero unir-me a eles em sua transformação em
filhos e filhas de meu Papai, em meus irmãos e irmãs, meus amados".

Em seguida, Mack faz a pergunta óbvia: Todos os caminhos levam a Cristo?
Jesus responde: "Muitos dos caminhos não levam a lugar algum. O que isso
significa é que eu irei a qualquer caminho para encontrar vocês".

Devido ao contexto, é impossível extrair conclusões essencialmente
universalistas ou inclusivistas quanto ao significado de Yong. "Papai"
repreende Mack dizendo que está agora reconciliado com todo o mundo. Mack
replica: "Todo o mundo? Você quer dizer aqueles que crêem em você, não é?"
"Papai responde: "Todo o mundo, Mack".


No todo, isso significa algo bem próximo da doutrina da reconciliação
proposta por Karl Barth. E, embora Wayne Jacobson, o colaborador de Young,
tenha lamentado haver pessoas que acusam o livro de ensinar a
reconciliação final, ele reconhece que as primeiras edições do manuscrito
foram influenciadas indevidamente pela "parcialidade, na época," de Young
para com a reconciliação final – a crença de que a cruz e a ressurreição
de Cristo realizaram a reconciliação unilateral de todos os pecadores (e
de toda a criação) com Deus.

James B. DeYoung, do Western Theological Seminary, um erudito em Novo
Testamento que conheceu Young por vários anos, documenta a aceitação de
Young quanto a uma forma de "universalismo cristão". A Cabana, ele
conclui, "descansa sobre o fundamento da reconciliação universal".

Apesar de que Wayne Jacobson e outros se queixam daqueles que identificam
heresia em A Cabana, o fato é que a igreja cristã tem identificado,
explicitamente, esses ensinos como heresia. A pergunta óbvia é esta: por
que tantos cristãos evangélicos parecem ser atraídos não somente à
história, mas também à teologia apresentada na narrativa – uma teologia
que, em vários pontos, está em conflito com as convicções evangélicas?

Os observadores evangélicos não estão sozinhos em fazer essa pergunta.
Escrevendo em The Chronicle of High Education (A Crônica da Educação
Superior), o professor Timothy Beal, da Case Western University,
argumentou que a popularidade de A Cabana sugere que os evangélicos devem
estar mudando a sua teologia. Ele cita os "modelos metafóricos
não-bíblicos de Deus" no livro, bem como seu modelo "não-hierárquico" da
Tridade e, mais notavelmente, "sua teologia de salvação universal".

Beal afirma que nada dessa teologia faz parte das "principais correntes
teológicas evangélicas" e explica: "De fato, essas três coisas estão
arraigadas no discurso teológico acadêmico radical e liberal dos anos 1970
e 1980 – que influenciou profundamente os feministas contemporâneos e a
teologia da libertação, mas que, até agora, teve muito pouco impacto nas
imaginações teológicas de não-acadêmicos, especialmente dentro das
principais correntes religiosas".

Em seguida, ele pergunta: "O que essas idéias teológicas progressistas
estão fazendo no fenômeno da ficção evangélica?" Ele responde:
"Desconhecidas para muitos de nós, elas têm estado presente em muitos
segmentos liberais do pensamento evangélico durante décadas". Agora, ele
diz, A Cabana introduziu e popularizou esses conceitos liberais até entre
as principais denominações evangélicas.

Timothy Beal não pode ser rejeitado como um conservador e "caçador de
heresias". Ele está admirado com o fato de que essas "idéias teológicas
progressistas" estão "se introduzindo aos poucos na cultura popular por
meio de A Cabana".

De modo semelhante, escrevendo em Books & Culture (Livros e Cultura),
Katharine Jeffrey conclui que A Cabana "oferece uma teodicéia pós-moderna
e pós-bíblica". Embora sua principal preocupação seja o lugar do livro
"num panorama literário cristão", ela não pôde evitar o lidar com a sua
mensagem teológica.

Ao avaliar o livro, deve-se ter em mente que A Cabana é uma obra de
ficção. Contudo, é também um argumento teológico, e isso não pode ser
negado. Diversos romances notáveis e obras de literatura contêm teologia
aberrante e heresia. A pergunta crucial é se as doutrinas aberrantes são
características da história ou são a mensagem da obra. Em A Cabana, o fato
inquietante é que muitos leitores são atraídos à mensagem teológica do
livro e não percebem como ela conflita com a Bíblia em muitos assuntos
cruciais.

Tudo isso revela um fracasso desastroso do discernimento evangélico.
Dificilmente não concluímos que o discernimento teológico é agora uma arte
perdida entre os evangélicos – e esse erro pode levar tão-somente à
catástrofe teológica.


A resposta não é banir A Cabana ou arrancá-lo das mãos dos leitores. Não
precisamos temer livros – temos de estar prontos para responder-lhes.
Necessitamos desesperadamente de uma redescoberta teológica que só pode
vir de praticarmos o discernimento bíblico. Isso exigirá que
identifiquemos os perigos doutrinários de A Cabana. Mas a nossa principal
tarefa consiste em familiarizar novamente os evangélicos com os ensinos da
Bíblia sobre esses assuntos e fomentar um rearmamento doutrinário de
cristãos evangélicos.

A Cabana é um alerta para o cristianismo evangélico. Uma avaliação como a
que Timothy Beal ofereceu é reveladora. A popularidade desse livro entre
os evangélicos só pode ser explicada pela falta de conhecimento teológico
básico entre nós – um fracasso em entender o evangelho de Cristo. A
tragédia de que os evangélicos perderam a arte de discernimento bíblico se
origina na desastrosa perda do conhecimento da Bíblia. O discernimento não
pode sobreviver sem doutrina.

terça-feira, 9 de março de 2010

AMOR E RESPEITO

Mutos casais estão perdendo a alegria de compartilhar o amor um ao lado do outro. Muitos casamentos estão desgastados, relacionamentos frios, rupturas no caminhar lado a lado. Sabem porque?  Por que está faltando AMOR E RESPEITO. O homem não sabe dar a mullher a dose de suavidade, paixão e ternura que ela tanto espera dele o dia todo. E a mulher por sua vez não consegue respeitar a visão masculina que é diferente da sua. Quer saber mais?
Não falte no nosso encontro de casais.
DATA: 27 de março